quarta-feira, 10 de março de 2010

Câncer

A chuva torrencial despencava pela cidade. As ruas, tornaram-se corregos. Os corregos tomaram a rua. Litros de água se chocavam no toldo do bar e escorriam, descendo pela frente de seu olho. 'Subam! Sentem na mesa', gritava o pobre dono do bar que afagava a cabeça já pensando nas despezas que as águas invasoras trariam. Fugindo da agitação, sentou-se ela na mureta do bar tomando nas costa a chuva gelada, sem nem se importar. Era só água. Alguem toma seu lado como refúgio e aborda uma tentativa de diálogo.
- Que chuva, Meu Deus!
- Deus, não. São Pedro é Santo.
- Ateu?
- Não. Católica.
- Acredita que isso é coisa de São Pedro?
- Acredito que é chuva. Cigarro?
- Não, obrigado. Não fumo. E você é jovem, não deveria também.
- Vou envelhecer um dia.
- Não tem medo de estragar seus pulmões?
- Pelo menos tenho dois pra estragar. Se mal lhe pergunto, tens medo da morte?
- Sim, muito. Você não?
- Não. Vai acontecer. Um tiro na testa, uma doença mal tratada, uma infecção, um câncer. Vou morrer e ponto.
- Mas não tem medo de morrer cedo?
- Não mais.
- Mas já teve?
- Antes de amar... Agora a morte me parece uma ideia confortável.

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