domingo, 29 de agosto de 2010

Covarde

Ah! Nada como refletir em um barco à deriva no oceano. As ondas se chocando levemente contra o barco, o balançar do barco, o vento, os albatrozes...
Nada como perceber que a culpa de tudo é sua. E que na verdade, esta sentindo raiva da pessoa errada. Deveria sentir raiva de si. Raiva da sua própria covardia, da estagnação em relação a uma partida. Raiva de não ter nem ao menos tentado fechar a mão pra evitar que seu lindo passarinho de belas cores, batesse as asas para longe.
Não há nada igual. Perceber que é uma pessoa fraca. Sem força de vontade. A mercê da correnteza lenta, quase parada, da vida. Não há nada igual.
Pena que eu tenha feito tudo na coragem brilhante de expor ate mesmo a cara a tapas.
E corri, quase voei correndo atrás de quem já tinha ido a muito tempo. De quem é fraco, sem força de vontade, sem coragem. Um ser completamente covarde que vive deixando a correnteza carregar um corpo quase morto.
Pena que fechei a mão com toda força pra não deixar aquele belo pássaro voar, mas ainda assim ele me escapou.
Pena que não sou um covarde. Com um outro alguém ou sem ninguém, mas covarde que não sofre.
Não teria nada igual ser um covarde que desama, foge e não chora.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Assinado, Aiko.

Rio de Janeiro, 20/10/2007.

Minha amada Kanã,

No mar fui me encontrar com a beleza de seus olhos, que nele refletem. Quem sabe mãe d'água não me devolve o sabor de seus lábios hora azedo, hora melado?
Quis sim, me entregar ao mar, donde sereia que és tu, nunca deveras ter saído. Mas saiu. E me encantou com seu canto silencioso. Agora me esvaio no mar em busca de sentir o cheiro das águas, matar minha sede em sua salina, me encontrar com sua soberania, poder afagar-me em sua eterna e dadivosa perfeição. Encantadora medusa que me envolveu em seus longos braços desnorteantes, ainda sinto seu calor atordoador, queimando, aquecendo os poros de minha pele. Fui buscar-te, medusa, no fundo daquela tela cristalina azulada, esverdeada e só hei de voltar quando reencontrar seu encanto divino.
Quanto a tua realeza carnal em terra? Não há motivos a se roer de saudade, tão pouco para se abater em culpa. Não chores linda menina-mulher que sem querer, sem saber foi colombina de meu amor pierrô. Foi colombina desse maldito pierrô em silêncio que fui. Não chores por culpa, menina inocente. Saiba minha linda Deusa em preto e branco, que este ser miserável em carne há de sorrir em alma agora. Saiba que se esta loucura de querer fazer do manto azul, o leito derradeiro de minha presença carnal, vier lhe atormentar, jogue flores ao mar. Recolherei-as maravilhada com cada pétala. Jogue cartas ao mar. Se eu não as ler mãe d'água há de cantarolá-las para mim.
Vou-me assim, meu retrato de Cleópatra, vou libertar minha alma para caminhar do inferno ao paraíso para enfim crer em Dante Alighieri, para enfim dormir sob o imenso manto de água que cobre os oceanos e por fim descansar de toda esse pouca e jovem vida sofrida. Dormirei e me aconchegarei eternamente em sua memória e me entorpecerei de sua beldade em meu sonho eterno, onde te tenho minha flor de lis, meu botão de rosa.
Estas meras palavras, direcionei a te acalmar e te fazer sorrir. Pequeno decreto que expressa o quanto exalo felicidade ao poder me equilibrar entre os cosmos no infinito azulado que cobre a todos nós. Vou brilhar entre as estrelas enquanto pulo pequenos barrancos nesses pequenos corpos celestiais antigos e brilhosos, e vou viajar à cometa, conhecer outros planetas. Lá eu hei de ser feliz.
E se escorre alguma lágrima em sua face, seque-as, pequena. Não te entristeças por mim. Não estou triste, Não vê? Estou radiante em felicidade. Então sorria comigo amazona guerreira quase minha. Divida comigo esse último sorriso. E quando enfim tiver lido esta, não me julgue suicida. Por favor não me compare a tão baixo calão. Suicidas não querem existir. Não gozam de nada e apenas se matam. Se livram de viver. Não me suicidei. Amei a vida, gozei dela a cada suspiro que me causou, meu doce anjo alado. Mas fui luxuriosa e quis conferir em alma o que em carne não se pode ver, sentir ou ter.
Assim finalizo a minha declaração em desculpas, desabafo e explicações. Pouco sei se esta estará em suas mãos ao amanhecer, monalisa de minha parede eterna, mas espero que receba esta, de algum mensageiro caridoso.
Aos companheiros de uma vida, minha breve saudade, carinhos e adeus. Aos meus laços sanguíneos, me perdoem.
Mas digo e grito para quem quiser ouvir, atei meus olhos em mar por amor, ternura, prazer, por feroz paixão que me consumiu em razão desse meu último suspiro que foi a última dose de Kanã. Entre essas doses, me embebedei, me entorpeci entre o sabor confuso daqueles beijos. Consumi cada gotícula de prazer que ousou tocar meus lábios.
Assino aqui, com meu coração devotamente apaixonado pela vida que só descobri e entendi quase e unicamente depois de encontrar Kanã. Te amei, Kanã. Lhe desejei, lhe tive, lhe perdi. Mas te amei, como continuo e sempre te amarei. De tanto amor, minha bela, morri de amor.
Sentirei eternas saudades dessa sua pele, que já ardem em mim.

Assinado, Aiko.

- Trecho do livro 'Entre doses de kanã'

Por Psy O.L

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Era o que eu queria

Olhe como estão vagas essas minhas palavras e falas montadas. Veja bem como falta em cada frase um conteúdo plausível a ponto de prender a atenção de um qualquer se quer. E é o que eu quero. Pois não quero que leiam minhas tristezas, minhas angustias, dores e saudades. Meus prantos em meio a rimas ordenadas em deixas forçadas. Não as lerão mais. Não as tenho mais.
Era o que eu queria.
Agora falta-me estro para cada texto. Inspiração para cada canção. Falta-me sentir o 'faltar'do seu 'eu' em mim. Há agora somente a ausência da ânsia incontrolável que cada dedo tinha vontade de dizer. Não dactilografam mais. Não digitam. Não escrevem. Só repousam e dormem no feliz vazio salutar que é não ter a trigueira imagem de semi-deusa rondando no meu pensar. Era meu penar! E penei... quando aqueles olhos de melado eu revia de olhos fechados sorrindo pra mim. E berrei esmurrando a parede de saudade que senti a cada vez que os olhos fechei e relembrei o beijo, o toque, o amor que não ganhei, mas vivenciei. E perdi. Como todo prazer que ainda rondava em minha mente atordoando, massacrando o peito que chorava de saudade. Ele não chora mais.
Era o que eu queria.
Não ter mais a lembrança. Não pensar mais no que fazer pra não lembrar, pois já não lembro do amor que não vi passar. Passou. E só. Deixou-me, deixou-lhe e se perdeu no espaço de tempo do passado, que por Deus! Quero nunca mais tocar. Quero nunca mais abrir a caixa de pandora que por descuido abri. Sem notar. Machucou. Doeu a cada tapa que a realidade me deu. Esses, que estalados, deixaram marcas que nenhuma cirurgia plástica vai tirar. Cicatrizes profundas que olho nenhum consegue ver. Mas que se olharem nas palavras que meu dedos gritaram, vão entender. Imaginar um pouco do que senti enquanto a estupidez de meu 'eu' insistia em a querer. Acabou. Frases, textos e poemas. Morreu o estro que existia por culpa de um falso 'eu' seu.
Era o que eu queria. Apesar de ser o que eu mais temia.
Não mais escrevo as lágrimas que escorria.
Era o que eu mais queria.
Não mais lembrar, não relembrar, mesmo que ainda a amar.

Por Psy O.L