sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Seu chão

"És minha segurança, minha certeza, meu chão", você dizia. Que sou seu tudo, seu mundo, mas que simplesmente não mais me queria.
 Pois não se aborreças, meu bem. Entendo e compreendo e não lhe cobro nenhum vintém. Acontece de tu seres um anjo com asas em formação que só necessitaras de mim enquanto estavas insegura de sua real aptidão.
 Desde cedo fora assim, desde o começo eu já previra o fim. Vi-lhe a cada dia que passava, esticar e alongar as lindas penas de suas asas douradas. Tu as debatias, chacoalhava-as e não levantavas voo de sua sacada. Então eis que tirei-lhe da sacada e mostrei-lhe os musicais de aquarelas do lado de fora. Você deslumbrou-se com tanta novidade e quis a liberdade,
 E agora?
 Agora era hora. Tu tinhas de aprenderes a voar e eu tinha de suportar e lhe ensinar. Tu começaras a agitar suas penas e asas e não saías do lugar, enquanto pulavas, pulavas e por fim, se espatifavas ao aterrissar. Até que os pulos se alongaram, as corridas se esticaram e de pulo longo em pulo longo, tu levantaras voo e nossas visões enfim se afastaram.
 Pois que voe anjinho pouco meu, e alcances no céu a plenitude. É ao céu que tu pertences, é da liberdade que derivas tua virtude. Quanto ao teu chão que sou, estarei sempre aqui estagnado. Sempre esperando seus pousos emergenciais destrambelhados. Enquanto tu tomas o mundo em mãos, estarei eu-chão embriagado e desesperado olhando ao alto na medíocre esperança de te enxergar e no final desse seu aprendizado, serei o chão abandonado do anjo ingrato que só insiste em voar.


 Por Ana Lagedo

Um comentário: